domingo, 13 de julho de 2008

Cinqüenta Anos da Bossa Nova

Pode-se afirmar sem receio que a Bossa Nova é o momento mais revolucionário da música popular brasileira. Nas quatro vertentes de uma canção - ritimo, melodia, harmonia e letra - todas conduzidas por três personalidades artísticas que, ao se cruzarem quase por casualidade no Rio de Janeiro em 1958, traçaram um novo rumo ao samba:

João Gilberto - Vinicius de Morais - Antonio Carlos Jobim

Três nomes excepcionais da música, o poeta Vinicius de Morais, o compositor Antonio Carlos Jobim e o violinista e cantor João Gilberto. Apesar dos dois primeiros virem trilhando desde 1956 o caminho da modernidade que se mostrava estar acontecendo, principalmente em função do pianista Johnny Alf, foi João Gilberto quem sintetizou a revolução da música brasileira quando gravou em 10 de julho de 1958 seu disco de 78 rotações "Chega de Saudade".

O som que se ouve nesse disco é uma outra bossa na canção. Nela havia uma nova forma poética para uma nova forma de composição e harmonia, uma forma nova de interpretação de voz e violão e uma nova batida no modo de ritimar o samba que seria a marca registrada dessa bossa. Naqueles 2 minutos e 59 segundos percebia-se nitidamente estar diante de uma nova bossa, a Bossa Nova.

No mesmo ano de 58 João causou mais estupefação quando gravou pela primeira vez uma música que iludiu o incaltos e deixou boquiaberta a classe musical brasileira, "Desafinado" de Jobim e Newton Mendonça. A melodia soava tão estranha que muitos foram induzidos a pensar que o cantor é que desfinava, quando, ao contrário, cantava cada nota com uma precisão tão certa e justa que não há como discutir sua impecável afinação.

O som dos dois primeiros discos causou uma reação espantosa, houve jovens que resolveram enveredar pela música depois que ouviram João Gilberto. Seu primeiro LP, lançado no inicio de 1959, tinha outra novidade surpreendente: além das três canções de um novo compositor, Carlos Lyra, João incluiu quatro músicas consagradas dos veteranos Dorival Caymmi, Ary Barroso e Marino Pinto. Ao remontar harmonias e ao nelas aplicar sua bossa, João demonstrou que canções como "Rosa Morena" também podiam ser Bossa Nova.

A Bossa Nova era econômica, tinha um linguagem da classe média para a classe média, era bem humorada, exaltava a natureza e a mulher, era coloquial, leve, um novo idioma musical que refletia a afirmação do país como nação vitoriosa nas conquistas atingidas. A Bossa Nova encarnava sob a forma musical um Brasil que estava se descobrindo. Oferecia uma sonoridade que enriquecia com frescor a musica popular de outros paises, inclusive os Estados Unidos, inclusive o seu Jazz. Foi o que aconteceu a patir do Concerto de Camegie Hall, em novembro de 1962, três meses após o pocket show realizado no Rio que reuniu pela primeira vez e única, os 3 vértices do triângulo: João, Tom e Vinicius. Foram estreadas as canções da derradeira safra da dupla e uma delas era "Garota de Ipanema".

Daí em diante a Bossa Nova influenciou uma geração de "arranjadores, guitarristas, músicos e cantores" como escrevera Tom Jobim. A Bossa Nova exerceu uma influência viçosa e saudável na música e deu, ao lado do futebol, a personalidade do povo brasileiro.

Zuza Homem de Melo
Maio de 2008

2 comentários:

Bruno disse...

"...exaltava a natureza e a mulher, era coloquial, leve, um novo idioma musical..."

E pensar que vivemos em tempos de uvas, mentas, créus, melâncias, jacas, quadrados, solteirões, aviões, helicoptéros e outras aberracões que insistem em se autodenominar como música. A mulher que era exaltada na Bossa Nova, hoje virou objeto na "obra" desses "pseudos-cantores", que por incrível que pareça, tem milhares de admiradores.

Unknown disse...

Bruno vc é o cara! Parabéns pela sensibilidade e a constante busca de novos conhecimentos. Fico triste quando sem querer ouço os absurdos desses arranjos barulhentos que poluem nossas vidas. Como seria maravilhoso se todos gostassem de cantar o amor e as belezas da vida como a "mulher".
Te admiro muito. Parabéns!!