sábado, 12 de julho de 2008

Células-Tronco


Elas têm a capacidade de se transformar em qualquer tipo de tecido. São a esperança dos portadores de doenças genéticas. Com a aprovação da lei de Biossegurança no Supremo Tribunal Federal no fim de maio, as células-tronco embrionárias já podem ser utilizadas em pesquisas científicas brasileiras. E o que muda na vida dos pesquisadores e pacientes com a decisão?

Hosana Maria é mãe de Bianca. Dedica 24 horas do seu dia para cuidar da menina, que tem 5 anos, o primeiro deles vivido num hospital. Com amiotrofia espinhal, a pequena não consegue respirar, comer ou andar sozinha. "Mas ela é uma criança que fala de tudo", orgulha-se a mãe, passando o telefone para a filha. Receptiva, solta logo um "oi". "É uma luta grande, mas ela foi o melhor presente que Deus já me deu". Hosana é dona-de-casa. Não entende muito bem o que são células-tronco. "Mas sei que podem fazer bem para a Bianca", explica. A decisão do dia 28 de maio trouxe um alento.

O Supremo Tribunal Federal (STF) negou a inconstitucionalidade e a lei de Biossegurança foi aprovada. As pesquisas com células-tronco embrionárias vão poder, enfim, começar. "Tem muita criança viva que precisa de ajuda. Se esses embriões iriam para o lixo, por que não usá-los para um bem maior?", questiona Hosana. Para a médica geneticista Denise Carvalho, doutoranda do Centro de Estudos do Genoma Humano, na Universidade de São Paulo (USP), a grande satisfação dos cientistas é a possibilidade real de estudar tudo que tinham em mente. "Não temos mais nenhum empecilho. O estímulo é geral, tanto pelos órgãos de financiamento, como pelos pesquisadores. É a possibilidade de realização plena do projeto".

Segundo Denise, existe pouco trabalho nessa área no Brasil. "Com o impedimento desde 2005, não tinha como crescer". A lei de Biossegurança, aprovada pelo Congresso em 2005, foi rapidamente sancionada pelo presidente Lula. Mas a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) recorreu ao STF, considerando que o artigo relativo às pesquisas era inconstitucional. "É ignorar completamente o significado de um embrião e as conseqüências para a criação de uma mentalidade desumana. A Igreja Católica insiste que o embrião não é um grumo de células, mas um indivíduo da espécie humana", destaca o padre Brendan Coleman Mc Donald, assessor da CNBB no Ceará.

Cura
Os pesquisadores, no entanto, explicam que só serão utilizados para as pesquisas os embriões que não servem mais para a fecundação. "São os inviáveis ou os que estão congelados há mais de três anos. Está descrito na lei", defende o neurocientista Stevens Kastrup Rehen, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Com a aprovação, a esperança de muitas pessoas reascendeu. "Sempre acreditei que isso poderia mudar. Quem sabe, talvez, a cura aparece logo e minha filha poderá, enfim, ficar boa", torce Hosana. No entanto, ainda não é possível dizer se Bianca poderá ser mesmo beneficiada.

A grande questão das pesquisas com células-tronco embrionárias é o quando. "É a pergunta mais difícil para nós, cientistas. Os rumos da pesquisa biomédica são incertos", ressalta a professora Lygia da Veiga Pereira, chefe do Laboratório de Genética Molecular do Instituto de Biociências da USP. "Pode ser que vejamos os resultados um mês, em dois meses, em um ano, ou em dez anos. Ou até que a gente morra sem vê-los. A ciência é imprevisível, o que não podemos é deixar de tentar. O fato de permitir a pesquisa é uma chance de encontrarmos o tão sonhado resultado. Pode ser mais rápido do que a gente imagina. Ou não", completa Denise Carvalho.

Fonte: http://www.opovo.com.br/opovo/cienciaesaude/803404.html

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