quinta-feira, 17 de julho de 2008

A educação mandou lembranças...


Muitos problemas da cidade poderiam acabar ou ser atenuados se a população tivesse mais educação. Todos sabem disso, mas a atitude não muda.

O carro 4X4 é importado. O motorista parece distinto metido num terno. O vidro escuro desce até a metade, ele estica o braço e solta o papel amassado. Nem aí. O lixo se amontoa no terreno baldio, na calçada, no canteiro central. A senhora termina o lanche e atira no chão o guardanapo e o copo vazio sem ao menos tentar disfarçar. As calçadas dos bairros chiques estão coalhadas de cocô de cachorro. Nos terminais de ônibus, as filas são campos de batalha. Nos prédios de consultório médico, chegar no elevador também é motivo de briga. No trânsito, salve-se quem puder! É até um espanto presenciar um gesto de gentileza entre motoristas. Em Fortaleza, falta educação, sobra egoísmo.

Panfletos

Basta uma volta no Centro para constatar. Os calçadões estão forrados de panfletos. "É tão sujo que a gente não sente culpa de jogar". O raciocínio da menina que acaba de dispensar um folheto praticamente do lado de uma lixeira é o mesmo de muita gente. Um círculo vicioso. Ela sabe que está errada, tanto que se recusa a dizer o nome completo. "Não quero sair na matéria não". Na Praça do Ferreira, Francisco de Castro sai em defesa do sobrinho, Anderson, que jogou no chão o copo de suco. "Não tem lixeira. Não vou guardar no bolso", responde irritado. O flagrante é sempre constrangedor. "Todo mundo sabe da problemática do lixo, agora o que eu vou fazer a respeito é outra coisa", diz a coordenadora de políticas ambientais da Secretaria de Meio Ambiente e Controle Urbano (Semam), Mara Calvis.

Paciência
O trânsito é espaço fértil para a falta de educação. No semáforo da avenida Aguanambi que dá acesso a rua Coronel Solón, é fácil ver motoristas furando a fila de carros que aguarda o sinal abrir. Para ganhar no máximo uns poucos minutos, testam a paciência de quem já vem estressado no trânsito sem o menor pudor. "Não é bem furar fila. Tem esse espaço sobrando", tenta explicar Maurício Soares que força a entrada na faixa do sinal, passando na frente de uns dez veículos. As filas duplas em frente aos colégios também são falta de educação, mas acabaram virando "coisa normal". "É só um instante. Fico dentro do carro e a outra pista está livre. Infelizmente, não tem outra alternativa", diz France Dantas, à espera do filho na saída do colégio.

Quem não tem nada a ver com aquilo, sofre com o trânsito arrastado. Manuel Alexandrino, 54, estaciona o carro a um quarteirão do portão de saída da escola. É sua contribuição para diminuir a fila dupla e o congestionamento. "O problema é operacional. Tem carro demais na cidade. Num colégio desse, de elite, cada pai traz seu filho de carro, inclusive eu. Tento fazer a minha parte", diz. Na avenida movimentada, esquina do mesmo colégio, vê-se o oposto. Um pai pára o carro e o trânsito, como faz a maioria. Outro gesto reprovável, mas cada vez mais corriqueiro, é transformar a rua em banheiro para cachorro.

Ninguém gosta de cruzar com um cocô no meio da calçada, pisar então nem se fala, incluindo aí os próprios donos de cachorro. Mas levar um pedaço de jornal e um saquinho para recolher a caca dos bichinhos parece estar fora de cogitação. Para uns é até humilhação. Francilene Nogueira faz cara de nojo para dizer que não limpa o cocô de Sushi. "A maioria do povo é assim mesmo", diz. Verdade. Nenhuma das sete pessoas vistas caminhando com seu cachorro numa manhã de quarta-feira limpa a calçada que eles sujam. Todo mundo tem justificativa, claro. "Ele só faz cocô em casa". "Não tem lixeira para jogar o saco. Não vou andar quarteirões com o cocô na mão". Tudo para justificar o que não tem explicação.

Também é falta de educação...

Carro trancando a saída de outro, mesmo que sejam só cinco minutinhos.

Usar vagas reservadas para deficientes porque está difícil encontrar estacionamento.

Utilizar o caixa do supermercado para 10 volumes se você tem mais de dez volumes no carrinho.

Forçar a entrada num elevador onde não cabe mais ninguém.

Grudar no carro da frente só para não deixar o outro carro, que pede passagem, entrar. Não custa nada dar a vez no trânsito.

Trancar direita ou esquerda livre.

Água parada em casa depois de tantos anos de campanha contra a dengue.

Mariana Toniatti - Jornal O Povo

Fonte: http://www.opovo.com.br/opovo/fortaleza/804744.html

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