
Século XIX. No salão da guarda velha, no Rio de Janeiro, 2 mil pessoas pediam silêncio entre si para ouvir o discurso do médico Bezerra de Menezes. Era exatamente 1889 e o cearense, então ex-deputado geral do Rio de Janeiro, se declarou espírita. A família, no Ceará, torceu o nariz para a atitude, reações moralistas tomaram conta de parte da multidão, e Dr. Bezerra - como é carinhosamente chamado por quem conhece sua história - continuou: não apenas acreditava na doutrina codificada por Allan Kardec (em 1857, na França), como vivia tais princípios. Respondeu respeitosamente à carta que recebeu do irmão, líder católico no Ceará, rebatendo críticas e explicando seus pontos de vista. Chegou a ser presidente da Federação Espírita Brasileira, entidade máxima da doutrina no País.
Esta e outras histórias da vida desse cearense estão contadas no filme Bezerra de Menezes, de Glauber Filho e Joe Pimentel, que estréia dia 29 de agosto (data de nascimento de Bezerra) nos cinemas de 12 capitais brasileiras (Belém, Teresina, Fortaleza, Recife, Salvador, Brasília, Goiânia, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba e Porto Alegre).
"Se hoje assumir uma religiosidade é complicado, imagina no século XIX. E Dr. Bezerra era alguém de capacidade crítica, um misto de intelectual, jornalista, escritor. O filme aborda questões como esta: como é a escolha de uma religião? Esse tipo de polêmica ainda é presente nos dias atuais", explica o diretor Glauber Filho, que ressalta ainda que o filme não pretende criar dogmas, muito menos se restringe aos espíritas ou simpatizantes à doutrina. "O filme vai apresentar um personagem, que não é só representativo para o espiritismo, por ser considerado o Allan Kardec brasileiro, mas um personagem altamente engajado nas lutas políticas e sociais do País. Bezerra de Menezes vem de uma família em que o avô dele lutou na Confederação do Equador, depois de formado em medicina foi deputado geral do Rio de Janeiro (o que hoje seria o equivalente ao cargo de prefeito)", completa.
Luciano Klein, um dos roteiristas do longa ao lado de Andréa Bardawill e Glauber Filho, pesquisa sobre a vida de Bezerra de Menezes desde 1998. Tem duas biografias publicadas sobre o médico e prepara o terceiro livro para lançar no início de 2009. Não hesita ao responder: afinal, quem foi Bezerra de Menezes? "Acima de qualquer coisa, além de médico, político, espírita e jornalista, foi uma figura que toca os nossos corações pelo exemplo de vida. Numa sociedade carente de referências de bons exemplos, Bezerra de Menezes é uma bela mensagem pela sua relação com seu semelhante, substanciada na vivência do amor, renúncia e dedicação". E reforça a universalidade da história. "Bezerra de Menezes é um exemplo independente de religião, é exatamente esse trabalho de dedicação ao próximo, que arrasta uma multidão de admiradores. Ele foi uma daquelas pessoas que mais diretamente falam ao nosso coração, como foi Gandhi, João Paulo II, pessoas que viveram semeando a mensagem de paz. Fazer o bem independe de religião". Não à toa, Bezerra de Menezes é chamado de médico dos pobres.
No filme, o ator global Carlos Vereza dá vida ao Dr. Bezerra. Protagoniza um dos mais conhecidos casos de sua dedicação ao próximo. Cotidianamente uma fila de pessoas se postavam na frente do consultório do médico. Era cobrado de quem tivesse condições de pagar. Ao contrário do que se imagina, Bezerra de Menezes nem sempre teve situação financeira favorável. Numa dessas ocasiões, uma senhora se apresentou com a filha muito doente, Dr. Bezerra fez o diagnóstico e a mulher começou a chorar dizendo não ter condição de comprar o medicamento necessário. O médico, já sem nenhum tostão nos bolsos, tira do dedo o anel de formatura e pede que a mulher troque a jóia na farmácia. "É uma atitude de renúncia franciscana. Ele se dispôs de um objeto que significava o árduo sacrifício de um nordestino para terminar o curso de medicina no Rio de Janeiro", conta Klein.
Por essas razões o espiritismo no Brasil o considera o nome mais importante da doutrina no País do século XIX. No século XX, é Chico Xavier. Mas Bezerra de Menezes extrapola a religiosidade, principalmente na política do Rio de Janeiro. Foi parlamentar de projeção, coordenou reformas no sistema de abastecimento d'água, trabalhou pela educação, visando a melhoria de salários de professores, foi um abolicionista e um dos primeiros ecologistas do País.
O projeto do longa Bezerra de Menezes começou como um docudrama, mas estréia em agosto como ficção. A mudança aconteceu depois da exibição do filme de 60% ficção e 40% depoimentos, no Fórum Espírita Mundial, no Centro de Convenções, e no Congresso Espírita em Cartagena. "Fizemos a pergunta: o que mais os espectadores gostariam de ver no filme? A resposta era mais cenas de ficção. Decidimos aproveitar os 60% já filmados e acrescentar outras partes. Os depoimentos farão parte dos extras do DVD que será lançado posteriormente", conta Glauber Filho. O diretor acredita que, ao orçamento inicial de R$ 1,7 milhão, acrescentaram-se mais R$ 300 mil.
A avenida Bezerra de Menezes é homenagem ao irmão de Bezerra de Menezes, Theófilo Rufino Bezerra de Menezes, que foi advogado e professor do Liceu do Ceará. No bairro Rodolfo Teófilo, existe uma rua Adolfo Bezerra de Menezes. Essa, sim, é uma homenagem ao médico.
Fonte: http://www.opovo.com.br/opovo/vidaearte/806035.html
Esta e outras histórias da vida desse cearense estão contadas no filme Bezerra de Menezes, de Glauber Filho e Joe Pimentel, que estréia dia 29 de agosto (data de nascimento de Bezerra) nos cinemas de 12 capitais brasileiras (Belém, Teresina, Fortaleza, Recife, Salvador, Brasília, Goiânia, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba e Porto Alegre).
"Se hoje assumir uma religiosidade é complicado, imagina no século XIX. E Dr. Bezerra era alguém de capacidade crítica, um misto de intelectual, jornalista, escritor. O filme aborda questões como esta: como é a escolha de uma religião? Esse tipo de polêmica ainda é presente nos dias atuais", explica o diretor Glauber Filho, que ressalta ainda que o filme não pretende criar dogmas, muito menos se restringe aos espíritas ou simpatizantes à doutrina. "O filme vai apresentar um personagem, que não é só representativo para o espiritismo, por ser considerado o Allan Kardec brasileiro, mas um personagem altamente engajado nas lutas políticas e sociais do País. Bezerra de Menezes vem de uma família em que o avô dele lutou na Confederação do Equador, depois de formado em medicina foi deputado geral do Rio de Janeiro (o que hoje seria o equivalente ao cargo de prefeito)", completa.
Luciano Klein, um dos roteiristas do longa ao lado de Andréa Bardawill e Glauber Filho, pesquisa sobre a vida de Bezerra de Menezes desde 1998. Tem duas biografias publicadas sobre o médico e prepara o terceiro livro para lançar no início de 2009. Não hesita ao responder: afinal, quem foi Bezerra de Menezes? "Acima de qualquer coisa, além de médico, político, espírita e jornalista, foi uma figura que toca os nossos corações pelo exemplo de vida. Numa sociedade carente de referências de bons exemplos, Bezerra de Menezes é uma bela mensagem pela sua relação com seu semelhante, substanciada na vivência do amor, renúncia e dedicação". E reforça a universalidade da história. "Bezerra de Menezes é um exemplo independente de religião, é exatamente esse trabalho de dedicação ao próximo, que arrasta uma multidão de admiradores. Ele foi uma daquelas pessoas que mais diretamente falam ao nosso coração, como foi Gandhi, João Paulo II, pessoas que viveram semeando a mensagem de paz. Fazer o bem independe de religião". Não à toa, Bezerra de Menezes é chamado de médico dos pobres.
No filme, o ator global Carlos Vereza dá vida ao Dr. Bezerra. Protagoniza um dos mais conhecidos casos de sua dedicação ao próximo. Cotidianamente uma fila de pessoas se postavam na frente do consultório do médico. Era cobrado de quem tivesse condições de pagar. Ao contrário do que se imagina, Bezerra de Menezes nem sempre teve situação financeira favorável. Numa dessas ocasiões, uma senhora se apresentou com a filha muito doente, Dr. Bezerra fez o diagnóstico e a mulher começou a chorar dizendo não ter condição de comprar o medicamento necessário. O médico, já sem nenhum tostão nos bolsos, tira do dedo o anel de formatura e pede que a mulher troque a jóia na farmácia. "É uma atitude de renúncia franciscana. Ele se dispôs de um objeto que significava o árduo sacrifício de um nordestino para terminar o curso de medicina no Rio de Janeiro", conta Klein.
Por essas razões o espiritismo no Brasil o considera o nome mais importante da doutrina no País do século XIX. No século XX, é Chico Xavier. Mas Bezerra de Menezes extrapola a religiosidade, principalmente na política do Rio de Janeiro. Foi parlamentar de projeção, coordenou reformas no sistema de abastecimento d'água, trabalhou pela educação, visando a melhoria de salários de professores, foi um abolicionista e um dos primeiros ecologistas do País.
O projeto do longa Bezerra de Menezes começou como um docudrama, mas estréia em agosto como ficção. A mudança aconteceu depois da exibição do filme de 60% ficção e 40% depoimentos, no Fórum Espírita Mundial, no Centro de Convenções, e no Congresso Espírita em Cartagena. "Fizemos a pergunta: o que mais os espectadores gostariam de ver no filme? A resposta era mais cenas de ficção. Decidimos aproveitar os 60% já filmados e acrescentar outras partes. Os depoimentos farão parte dos extras do DVD que será lançado posteriormente", conta Glauber Filho. O diretor acredita que, ao orçamento inicial de R$ 1,7 milhão, acrescentaram-se mais R$ 300 mil.
A avenida Bezerra de Menezes é homenagem ao irmão de Bezerra de Menezes, Theófilo Rufino Bezerra de Menezes, que foi advogado e professor do Liceu do Ceará. No bairro Rodolfo Teófilo, existe uma rua Adolfo Bezerra de Menezes. Essa, sim, é uma homenagem ao médico.
Fonte: http://www.opovo.com.br/opovo/vidaearte/806035.html
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